sexta-feira, 4 de março de 2016

Palavras Dançam?

Os passos bem largos bem soltos e livres de pesos, que corriam apressados, se acalmam e dançam na chuva. Brincam, sorriem e abandonam o tempo e podem até sentir o toque. Toque macio e penetrante de cada gota que chega e refresca essa temporada.
São crianças, até bobas, até tolas, mas vamos falar dessa chuva que no meio de tantas palavras, dançam e encantam com suavidade e beleza, com os sinônimos ousados e usados pra reprimir o obvio. 
E é ela quem conduz o caminhar. É ela quem escolhe o ritmo. É ela quem vai esclarecendo as etapas e vai juntando esses passos na chuva e essas frases confundidas com ruas. As ruas que se cruzam, que se afastam, se juntam, cheias de meias palavras, pensamentos.
A chuva observa com carinho o andar de todos, inclusive dessas crianças que se olham e dançam na chuva como se a rua fosse infinita. Mas essas não sabem brincar. Hora se escondem hora se mostram, parecem até brincar de pira-pega. Só que a chuva também tem hora pra acabar e as crianças hora de voltar pra casa.
Antes de irem, se desvendam mutuamente, e se descobrem vividas, décadas e décadas. Onde aquele trajeto tinha sido o melhor, de toda uma infância confusa. A chuva dizia que ia voltar amanhã, então os sorrisos brotavam confiantes, os olhos brilhantes e mãos que se tocavam e já não era mais preciso sinônimos. Não havia adjetivo capaz de expressar. Apenas um, que desde então seria como um vício de linguagem que acariciava os ouvidos e abraçava de longe.
Todas as tardes eram assim, risos, descobertas, sonhos e certezas. Mas houve um tempo em que o silencio brotou. Olhavam-se na mesma rua, mas se ignoravam como se não estivem na mesma rua. Mas era uma escolha de cada, deixar ficar, deixar ir, deixar chover novamente. Talvez tenha ficado chato pra elas correr na chuva.
E a chuva se frustrava por não mais ser capaz de juntar esses passos, esses sorrisos, esses olhares, essas mãos.
Era o fim das férias. Mas não o fim dos pensamentos, das vontades, e muito menos da chuva, que hoje chove lá fora esperando as próximas férias, as próximas brincadeiras, as próximas crianças, os próximos sorrisos cruzados.
Amanha é dia de sol, não terá chuva, mas o dia que vem, e deverá ser vivido, e quem sabe usar o tempo a seu favor, vai se divertir mais ainda. A chuva deixa o lugar pra uma nova temporada, onde o sol pode iluminar novas corridas e novas saídas, e novas coisas. Novas, novas, novas. Tudo novo.
Deixa nascer, deixa brotar, deixa crescer, deixa dar frutos. Foi o ultimo recado da chuva antes de partir pra outra terra. Mas cada um é dono de seu futuro e suas escolhas. Manter-se passivo ou atuante nessa nova temporada é uma escolha de cada criança.
Ainda tem muita rua, muito sol, muita chuva, pra muitas crianças brincarem.

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