terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Cronica Do Viajante Sem Rumo



O viajante das certezas se confundiu diante das trilhas

Estava perdido antes de tudo, mas já conseguia de alguma forma se encontrar. Fugia de um castelo sombrio cheio de correntes, câmeras de vigilância, algozes e fome. Mas sua astúcia maliciosa e ao mesmo tempo inocente lhe rendeu uma fuga.

E correndo loucamente diante de árvores,  rios, pedras e feras, enfrentava os piores fantasmas de sua estória. E entre quedas, desaforos, desistências e levantadas, o viajante se sentindo o trovador intergaláctico, pegou atalhos para onde queria chegar.

"Não se sabe onde" era o nome do lugar, o viajante cheio de razões no bolso e sentimentos na mochila, descobriu formas de atravessar planos, dimensões, chegando a abrir fendas no espaço-tempo, seguindo pro passado e pegando atalhos no presente, podendo assim navegar um grande mar do tamanho da sua mente e chegar em outro plano chamado futuro inexistente, situado no grande vale da ilusão e próximo das ilhas imaginárias.

Ali o viajante dotado de grandes experiências irracionalmente mentalizadas e materializadas em folhas de bananeiras, pode habitar serenamente enquanto se adaptava ao novo eterno improviso da sua pequena vida de borboleta. 

Tudo era tão ligado, como seus neurônios, músculos e articulações, obviamente funcionando naturalmente. E como tudo pra sua mente era tão comovente, cada serzinho minúsculo era pro viajante alucinantemente majestoso, encantador, amável e conquistador. 

E pra ele, construir seu gigantesco lar de tartaruga ali, era o seu plano arquitetado, calculado, idealizado com todas suas forças e energias, essas que estavam reservadas para um momento onde o cosmos pudesse vim a perder novamente o equilíbrio quântico, mecânico, cinético e gravitacional. 

E enquanto tranquilamente o desesperado viajante embobado ia engenhando seu mais novo monumental, colossal e  titânico lar simplório de passarinhos, um tufão forte vindo do sul pode destruir tudo, desequilibrando toda harmonia instaurada com anos de guerras intraterrivelmente sangrentas e dolorosas. 

O viajante se viu indefeso e ameaçado e começou a novamente correr ao redor de sua própria tempestade de doçuras, alegrias e ternuras... Mas precisava dar um jeito de se esconder para assim poder levantar novamente suas muralhas cheias de brechas do tamanho da tempestade intergaláctica que acabara de se formar. 

E ao tentar se enveredar por trilhas desesperadamente mansas, o viajante das certezas se confundiu diante das trilhas.